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Quando caminhamos na noite escura – Paulo de Tarso

Comunidade Luz

     No dia em que a Igreja celebrou Nossa Senhora do Carmo, 16 de julho, que por divina providência neste ano de 2022 caiu bem no dia de sábado, dedicado à memória litúrgica de nossa Senhora, comecei a ler uma obra que há poucos dias havia chegado em minhas mãos, A Subida do Monte Carmelo, obra monumental de são João da Cruz, um dos grandes legados da teologia mística, que nunca caduca, nem deixa de ser atual para a caminhada de quem deseja trilhar um itinerário de encontro com o Senhor.

 O frei João da Cruz, padre carmelita que viveu no século XVI, presenteou a humanidade com sua obra de ascese que ele chamou de “Noite Escura do espírito”, uma profunda meditação sobre o mistério humano, que caminha rumo à perfeição da alma atravessando a noite dos sentidos, da fé e do amor.

O tema é-nos bastante peculiar! Nascemos com a ideia fixa de construirmos uma vida feliz, plena, encontrando em todas as realidades alegria e gozo. Acontece que, sutilmente, vão aparecendo aquelas experiências que estão na contramão do que queremos. A experiência da dor, do desamparo, do vazio da alma, das inquietudes que roubam a alegria e tornam tudo enfadonho e cansativo. A vida desperta com violência para a consciência do sofrimento, da precariedade e das limitações que são próprias da esfera humana.

Chegam os momentos em que a alma grita de tão incomodada: por que sofro? O que está por trás dessas sensações e sentimentos tão miseráveis e angustiantes que me assaltam com frequência?

O profeta Jeremias foi o campeão em experimentar essas noites escuras com seus infortúnios de dor e solidão. “Por que se tornou eterna a minha dor, por que não sara minha chaga maligna?” (Cf Jr 15, 16)

Meditando sobre tão insuperável realidade, descobrimos que  sofrer é inerente à condição humana. O segredo consiste em não gastar tantas energias buscando viver na ausência de todas as formas de sofrimento, mas acolher com sobriedade os infortúnios e dores que aparecerem em nossa vida, tendo consciência de que as aflições não têm um fim em si mesmas, ou seja, ninguém sofre por sofrer, e não há dor que dure para sempre. Há razões que estão para além da nossa mera percepção humana.

Fomos criados para a verdadeira alegria, verdadeira paz. Depois das angustiosas noites do espírito, resplandecem os dias de paz, onde a alma descansa na consolação da graça e do amor divinos.

Não é que agora devamos pedir para sofrer, porém, quando chegar à nossa vida situações que trazem dor, tenhamos a firme disposição espiritual de entregar toda situação ao Coração Misericordioso de Jesus, chagado por amor de nós, ferido em Sua carne, em Sua dignidade, abandonado por causa dos nossos pecados. Através das minhas dores, me associo à Sua paixão, à Sua redenção por amor dos que sofrem, por amor de meus irmãos, minhas irmãs, meus filhos, meus pais, por tantas famílias que sofrem tanto, por tantos lares que gritam por misericórdia, que gritam em silêncio, por Deus!

Permitamo-nos fazer a grande experiência do autêntico amor fraterno, da paciência, da calma, da luta interior. Sim! Esta é a palavra chave: o nosso sofrer é uma vivíssima oportunidade de vencermos nossas lutas interiores, que nos completa em nosso sentido de existência, nos amadurece, nos forma como verdadeiros filhos de Deus.

Quero lembrar-vos também as palavras de São Paulo às comunidades que sofrem tanto: “Bendito seja Deus, o pai das misericórdias, que nos consola em toda tribulação para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que sofrem” (Cf.: 2Cor 1,3ss).

A noite escura do espírito é um chamado particular que o Senhor nos faz para iluminarmos as trevas do mundo. Portanto, coragem! Nada de desânimos. A caminhada é assim mesmo: lutar/cair/levantar até a vitória, até o Reino. Acima de tudo, estando sempre dispostos a recomeçar, todos os dias, com a certeza no coração: Deus me ama, é meu Pai querido! Mesmo no meu sofrimento, não deixou de me amar nem por um instante sequer.

“Minha força, é à Vós que me dirijo, porque sois o meu refúgio e proteção, Deus clemente e compassivo, meu amor! Deus virá com seu amor ao meu encontro.”

                                                                                                                             (Salmo 58, 3)

Deus vos abençoe.

 

Paulo de Tarso  

                                                                                                                                                   Fundador

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